Uma história muito especial: "A Zeropéia"
Boa tarde amigos!
Agora vou apresentar-lhes uma história que amo. Conheci este livro quando trabalhei em uma biblioteca infanto-juvenil, esta foi minha primeira história escolhida para contar às crianças de algumas escolas municipais (de Porto Alegre) que participavam do projeto "Arte de Ler", de que eu fazia parte.
A partir desta história poderemos conversar com nossos filhos (ou alunos) sobre as diferenças, preconceitos, aceitação e auto estima. Vale muito a pena!
Beijos;
Grazi
Ia uma centopéia com suas cem patinhas pelo caminho quando
topou com uma barata.Vendo tantas patinhas num bicho só, a barata ficou
boquiaberta:
-Mas Dona Centopéia pra que tantas patinhas? A senhora precisa
mesmo delas? Olha, eu tenho só seis e são mais do que suficientes! Posso fazer
tudo, correr, trepar nas paredes, me esconder nos buracos. Ninguém consegue me
acertar na primeira, nem na segunda chinelada!- É respondeu a centopéia -, eu
não havia pensado nisso! E olha que tenho essas cem patinhas desde que nasci
cinqüenta de um lado e cinqüenta do outro…
- Como à senhora faz quando tem
uma coceira? perguntou a barata – Já imaginou o trabalhão, coçando daqui e dali
sem parar? Deve ser um inferno ter tantas patinhas! Por que a senhora não amarra
noventa e quatro e fica com seis como eu? Vai ficar muito mais fácil e a senhora
vai poder inclusive correr muito mais, como eu.
A centopéia nem pensou e
amarrou as noventa e quatro patinhas. Doeu um pouco com todos aqueles nós, mas
era necessário, e continuou a andar.
Lá na frente se encontrou com um
boi.
Quando o boi viu a centopéia andando com seis patas ficou
intrigado:
- Dona centopéia por que seis patas? Para que tantas? Olhe, eu só
tenho quatro e faço o que quero! Corro, participo de touradas, pulo cerca quando
quero, sou forte e todo mundo me admira! Por que a senhora não amarra mais duas
patinhas e fica com quatro? Vai ficar mais ágil e vai correr tanto quanto
eu…
A centopéia amarrou mais duas patinhas. Doeu um pouco, já estava quase
dando cãibra,
mas era necessário, e continuou a andar.
Lá mais na frente,
já andando com certa dificuldade, a centopéia se encontrou com
o
macaco.
Quando o macaco viu a centopéia andando com quatro patas, ficou
curioso.
Olhou bem, contou e recontou, e não se conteve:
- Mas… Dona
centopéia, por que tanta pata se a senhora pode andar com apenas duas, como
eu?Veja como eu faço: pulo de galho em galho, corro, ninguém me pega nesta
floresta. Por que a senhora não amarra mais duas patinhas e fica assim, como
eu?
A centopéia nem pensou e amarrou mais duas patinhas. Agora só tinha duas
patinhas livres, poderia viver em paz, como a maioria dos bichos da floresta, e
se parecia até com as pessoas, podia até pensar em ter nome de gente, como Maria
ou Florinda.E continuou a andar, com muita dificuldade, mas tranqüila. Havia
seguido todos os conselhos que recebera pelo caminho.Velhos tempos aqueles em
que tinha cem patinhas livres!Quanto trabalho
à toa! E continuou a andar.Mas lá na volta do caminho, de repente, viu a dona
cobra!
A centopéia sentiu um friozinho na barriga.
- I! pensou ela a dona
cobra nem patas têm!
Não deu outra. Quando a cobra viu a centopéia com suas
duas patinhas, foi logo parando
e dizendo:- Por que andar com essas duas
patas num corpo tão comprido e desajeitado? Será que você não sente que está
sendo ridícula andando só com duas patas? E, afinal de contas, pra que patas pra
andar? Não vê como eu corro, escapo, ataco, meto medo, serpenteio, subo em
árvores e até nado sem patas? Por que não completa a obra e amarra tudo de uma
vez?
A centopéia então, amarrou as suas últimas patinhas, pensando que podia
ser que nem a cobra. E não podia. Ali mesmo ficou pedindo socorro e gritando por
todos os bichos da floresta:- Ei, dona barata, seu boi, seu macaco, dona cobra!
Venham me ajudar! Não consigo mais andar! Eu, que tinha cem patinhas, deixei de
ser uma centopéia e acabei virando uma zeropéia!A turma da floresta, pra
concertar a situação, teve então uma idéia, a de fazer um carrinho bem comprido
para a centopéia poder se locomover. A centopéia ia virar a primeira zeropéia
motorizada da floresta!- Mas como é que eu vou dirigir esse carro se não tenho
mais patinhas?
Foi um drama! Os bichos foram logo discutindo:
- A barata
dirige, pois foi ela quem mandou amarrar noventa e quatro patinhas de uma só
vez!
- Não, não, não! Dirige o boi, que mandou amarrar mais duas patas!
-
Melhor o macaco, que mandou amarrar mais duas.
- Negativo! Dirige a cobra,
que mandou amarrar tudo. Até que a centopéia se deu conta, pensou bem pensado e
disse para todo mundo:
- É, gente, a culpa é minha! Eu não devia ter escutado
essa conversa fiada de amarrar patinhas! Eu não sou barata, não sou boi, não sou
macaco e nem cobra; eu sou é eu mesma, uma centopéia que quase virou uma
zeropéia.
A centopéia agradeceu o carrinho, mas, mandou a bicharada
desamarrar todas as suas patinhas. E decidiu que o mais importante era ser ela
mesma e ter as suas próprias idéias na cabeça…
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